Cirurgia Bariátrica

O problema da obesidade

A obesidade é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal no indivíduo, sendo tratada como um problema de saúde pública em todo o mundo. A obesidade e suas doenças associadas são a segunda principal causa de morte evitável, após o fumo. As causas da obesidade são relacionadas a diversos fatores, podendo ser causada por tendência genética, maus hábitos alimentares, sedentarismo e problemas hormonais. No Brasil, a obesidade vem crescendo cada vez mais e os últimos levantamentos apontam que mais de 50% da população está acima do peso, ou seja, na faixa de sobrepeso e obesidade.

Para o diagnóstico em adultos, o parâmetro utilizado mais comumente é o do índice de massa corporal (IMC). O IMC é calculado dividindo-se o peso do paciente por sua altura elevada ao quadrado. É o padrão utilizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que identifica o peso normal quando o resultado do cálculo do IMC está entre 18,5 e 24,9. Para ser considerado obeso, o IMC deve estar acima de 30.

Exemplo de como calcular o Índice de Massa Corporal (IMC):

Exemplo: 76kg / 1,79m x 1,79m = 23,71 (Normal)

Baseado no IMC do paciente, nós vamos entender o grau de risco que ele apresenta naquele momento, devido ao excesso de peso, e podemos escolher a melhor forma de tratamento para cada caso.

Exemplo: 76kg / 1,79m x 1,79m = 23,71 (Normal)

Baseado no IMC do paciente, nós vamos entender o grau de risco que ele apresenta naquele momento, devido ao excesso de peso, e podemos escolher a melhor forma de tratamento para cada caso.

Peso normal

18,5 - 24,9

Peso Saudável

Sobrepeso

25,0 - 29,9

Aumentado

Obeso tipo 1

30,0 - 34,9

Moderado

Obeso tipo 2

35,0 - 39,9

Grave

Obeso Mórbido

40,0 - 49,9

Muito Grave

Super Obeso Mórbido

50,0 - 59,9

Acentuadamente Grave

Tratamento Clínico

O tratamento clínico deve ser sempre considerado como primeira opção no controle da obesidade. Esse tipo de tratamento deve ser realizado por um endocrinologista ou médico nutrólogo, que deve excluir problemas hormonais como causa da obesidade e a partir daí propor ao paciente uma mudança de hábitos alimentares, organização dos horários das refeições, iniciar ou aumentar a prática de atividade física, podendo inclusive utilizar alguns medicamentos que melhorem a perda de peso e que facilitem as mudanças comportamentais.

 Cirurgia Bariátrica

Quando o tratamento clínico falha e se mostra ineficaz para a redução do peso, a cirurgia bariátrica deve ser considerada. A cirurgia tem um índice de sucesso muito grande no controle da obesidade, principalmente nos casos de obesidade grau II e grau III, onde os resultados são muito superiores ao tratamento clínico. A cirurgia é sempre realizada por videolaparoscopia ou por via robótica, ou seja, através de pequenas incisões, que reduzem a dor no pós-operatório e fazem com que o paciente se recupere mais rápido e com mais segurança. Existem várias técnicas de cirurgia bariátrica e cabe ao cirurgião bariátrico apresentá-las, discutir detalhes com o paciente e recomendar aquela que acredite ser a mais segura e ideal para o seu caso.

Quem pode fazer a cirurgia bariátrica?

Existem critérios baseados no risco do paciente, para indicação da cirurgia. É necessário que o paciente tenha diagnóstico de obesidade e tenha tentado tratamento clínico sem sucesso, por pelo menos 2 anos. Dessa forma, a cirurgia estaria indicada quando:

– O paciente tem obesidade grau 3, com Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou superior a 40 kg/m², mesmo sem doenças associadas.

– O paciente tem obesidade grau 2, com IMC a partir de 35 kg/m² e apresenta doenças associadas à obesidade como diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia, gordura no fígado, ovários policísticos, doenças articulares, apneia do sono ou transtornos emocionais relacionados ao excesso de peso.

Quais são as doenças associadas à obesidade?

A obesidade pode causar uma série de doenças, conhecidas como comorbidades e que aumentam em muito a taxa de mortalidade, além de diminuir a expectativa de vida dos pacientes. As mais conhecidas são hipertensão arterial (pressão alta), diabetes mellitus, cálculos (pedras) da vesícula biliar, depressão, doenças nas articulações (principalmente nos joelhos), dificuldade para respirar durante o sono (apneia noturna), cansaço fácil, ovários micropolicísticos, úlceras e varizes de membros inferiores, impotência sexual no homem, além de um incidência maior de infarto agudo no miocárdio. A cirurgia bariátrica tem impacto importante não apenas na perda de peso, mas também no controle de todas as comorbidades citadas acima. Nas imagens abaixo, vocês identificam as mudanças positivas que a cirurgia bariátrica pode trazer para o paciente.

Como é feito o preparo para a cirurgia bariátrica?

Para realizar a cirurgia é necessário que o paciente passe por um processo que chamamos de preparo pré-operatório, até que ele esteja apto a ser submetido ao procedimento cirúrgico.

Todo paciente deve realizar exames pré-operatórios para avaliar o seu estado de saúde atual e eventuais doenças associadas à obesidade que não tenham sido diagnosticadas previamente. São solicitados exames de sangue, exames cardiológicos, ultrassonografia abdominal, endoscopia digestiva alta e alguns outros exames específicos a depender da idade do paciente e doenças que apresente, tais como a espirometria (prova de função pulmonar) ou a polissonografia (estudo do sono, para avaliar apneia noturna e roncos), por exemplo.

Além dos exames, os pacientes passam por uma avaliação com cardiologista, endocrinologista, nutricionista e psicólogo(a). Cada um desses profissionais avalia o paciente e emite um relatório dizendo que ele está apto a realizar o procedimento. Esses relatórios são importantes porque devem ser enviados ao plano de saúde, junto a todos os exames e o relatório do cirurgião bariátrico, para que a cirurgia seja liberada.

A avaliação psicológica e nutricional pré-operatória tem o papel principal de preparar o paciente para a cirurgia, muito mais do que impedi-lo de operar, como se costuma imaginar. Sabemos que a cirurgia bariátrica requer mudanças de hábitos de vida, envolve receios naturais por parte dos pacientes, exigindo capacidade de adaptação às mudanças necessárias e o apoio de uma psicóloga especializada faz toda a diferença para que as pessoas passem por essa fase da melhor forma possível e mais preparados. Além disso, possíveis transtornos alimentares que o paciente apresente podem ser acessados pela psicóloga e tratados antes da cirurgia.

Na avaliação nutricional, nossas nutricionistas acessam o perfil alimentar atual do paciente e vão trabalhando a mudança entre o pré e o pós-operatória ocorra da forma mais tranquila possível. Faz parte do papel da nutricionista orientar o paciente sobre a dieta nos dias que antecedem a cirurgia bariátrica, bem como esclarecer que nos pós-operatório a evolução da dieta se dá de forma gradual quanto à consistência dos alimentos, iniciando com uma dieta líquida por 5 dias, depois semi-líquida por mais 10 dias e posteriormente progredindo para dieta pastosa até atingir e consistência normal entre 20 e 30 dias da data da cirurgia. Essa dieta específica é prescrita pela nutricionista e o paciente já deve internar para a cirurgia com todas essas orientações.  Durante esse período, o paciente não sente fome, porque as mudanças hormonais que a cirurgia proporciona já estão presentes, mas deve-se seguir a recomendação alimentar à risca para que a perda de peso se dê de forma gradual e saudável.

 Como é a recuperação da cirurgia bariátrica?

Na nossa equipe, utilizamos há alguns anos o protocolo ERAS (Enhanced Recovery After Surgery), que significa “recuperação rápida após a cirurgia”. O ERAS, que tem o seu similar no Brasil denominado protocolo ACERTO (Aceleração da Recuperação Total no Pós-operatório), é um protocolo de assistência multimodal pós-operatória que favorece a recuperação precoce dos pacientes, com menos dor e retorno mais rápido às atividades diárias. O protocolo ERAS em Cirurgia Bariátrica, que utilizamos no nosso grupo, inclui uma série de medidas que vão desde cuidados anestésicos, movimentação precoce do paciente após a cirurgia, curto período de jejum e uso de medicações específicas que favorecem uma recuperação mais rápida, por exemplo. Quando associamos o ERAS a uma técnica de videolaparoscopia ou cirurgia robótica, favorecemos que quase todos os nossos pacientes recebam alta hospitalar no dia seguinte à cirurgia, dormindo apenas uma noite no hospital. Não é que a cirurgia bariátrica seja um procedimento simples, mas com os avanços tecnológicos dos últimos anos, a introdução de técnicas cirúrgicas cada vez menos invasivas, a experiência da equipe médica e protocolos modernos de recuperação pós-operatória, o procedimento se tornou cada vez mais seguro e rápido. E sem dúvida, todos esses avanços têm favorecido um número muito grande de pacientes, que podem ter seus problemas relacionados à obesidade e suas doenças associadas definitivamente resolvidos.

 O que acontece no dia da cirurgia? 

O paciente interna no mesmo dia, chegando ao hospital 2 horas antes do procedimento, sendo admitido e encaminhado para a sala de preparo pré-operatório, onde recebe cuidados de enfermagem, tem todos os seus exames e dados pessoais checados e usa uma medicação oral para reduzir a ansiedade e até dormir um pouco.

A cirurgia dura em torno de 40-60 minutos e logo após o paciente é encaminhado para a sala de recuperação pós-anestésica, onde fica por cerca de 1-2 horas sob os cuidados do anestesista, até que esteja apto a ser liberado para o quarto.

Assim que chega ao quarto, o paciente é estimulado a caminhar, ir ao banheiro, respirar profundamente e deve fazer fisioterapia respiratória e motora. Entre 4-6 horas após a cirurgia, o paciente já estará ingerindo líquidos claros, recebendo medicações para evitar dor e náuseas e recebe alta hospitalar no dia seguinte, com receita médica e orientações do cirurgião. 

Quais as técnicas cirúrgicas mais utilizadas atualmente?

Bypass Gástrico (Gastroplastia com desvio intestinal em Y de “Roux”)

Estudado desde a década de 60, o bypass gástrico ainda é a técnica de cirurgia bariátrica mais realizada no Brasil, correspondendo a mais de 60% das cirurgias. É considerada o padrão-ouro, devido a sua segurança e, principalmente, sua eficácia, já comprovadas pelo longo tempo em que é realizada e pelos resultados apresentados. O objetivo da cirurgia é a perda de 70% a 80% do excesso de peso inicial ao longo de 12-18 meses.

Nesse procedimento existem dois componentes básico, um deles é a redução do estômago com a criação de um pequeno reservatório gástrico (novo estômago) e depois é realizado em desvio intestinal e uma parte do intestino médio é ligada nesse novo reservatório gástrico. Na primeira etapa da cirurgia é feito o grampeamento de parte do estômago, diminuindo seu tamanho, o que gera um efeito restritivo, reduzindo o espaço para o alimento e fazendo com que o paciente se sinta saciado com um volume menor de comida. Na segunda etapa é realizado um pequeno desvio do intestino inicial, que faz com que o alimento passe mais rápido e chegue ao intestino distal, promovendo o aumento de hormônios que dão saciedade, diminuem a fome e ajudam no controle do diabetes, estimulando a produção de insulina pelo pâncreas. Essa somatória entre menor ingestão de alimentos e aumento da saciedade por mudanças hormonais positivas é o que leva ao emagrecimento, além de controlar o diabetes, doença do refluxo e outras doenças, como a hipertensão arterial. A cirurgia de bypass gástrico é a técnica mais utilizada em paciente com diabetes tipo II ou que apresentem doença do refluxo importante, por apresentar melhor resultado nesse tipo de paciente.

Uma curiosidade sobre o nome da técnica: a costura do intestino que foi desviado fica com formato parecido com a letra Y, daí a origem do nome. E Roux é o sobrenome do cirurgião que criou esta técnica de desvio intestinal.

Gastrectomia Vertical (Sleeve)

A gastrectomia vertical é uma técnica relativamente recente (cerca de 10 anos), mais conhecida com cirurgia de Sleeve ou gastrectomia em manga de camisa. Nesse procedimento, cerca de 80% do estômago é retirado e o estômago que fica, apresenta um formato alongado, tubular, semelhante a uma banana ou a manga longa de uma camisa. Esse procedimento é considerado restritivo e metabólico, onde o estômago é transformado em um tubo, com capacidade de 80 a 100 mililitros (ml). Ele funciona através de vários mecanismos. Primeiro, o novo tubo gástrico possui um volume consideravelmente menor que o estômago normal e ajuda a reduzir significativamente a quantidade de comida (e, portanto, calorias) que pode ser consumida. O maior impacto, no entanto, parece ser o efeito que a cirurgia exerce sobre os hormônios intestinais, de certa forma semelhante ao que temos no bypass, que também geram saciedade precoce e a melhora do controle da glicose.

A cirurgia de Sleeve provoca uma boa perda de peso, comparável à do bypass gástrico, no curto e médio prazo. O Sleeve apresenta a vantagem de não afetar a absorção de certas vitaminas e pode ser convertido em outras técnicas cirúrgicas, caso haja reganho de peso. Como desvantagem, destacamos que não é uma cirurgia que pode ser revertida e além de haver uma chance de o paciente desenvolver a doença de refluxo, podendo ser necessário tratamento com medicação. 

Atualmente vem crescendo muito o número de cirurgiões que acreditam nos resultados desta técnica, inclusive para controle do diabetes. Estima-se que em pouco tempo será a cirurgia mais feita no Brasil e já é a mais realizada em todo o mundo.

Duodenal Switch

É uma cirurgia composta por duas partes, primeiro uma gastrectomia vertical (retirada de parte do estômago) semelhante ao Sleeve e depois é feito um desvio intestinal, maior do que o que se faz o bypass. Nessa cirurgia, 60% do estômago é retirado, porém a anatomia básica do órgão e sua fisiologia de esvaziamento são mantidas.

O desvio intestinal bem maior que o bypass reduz a absorção dos nutrientes de forma mais significativa, levando ao emagrecimento. A técnica foi criada em 1978 e atualmente corresponde a menos de 1% das cirurgias bariátricas realizadas no Brasil. O duodenal switch leva à perda de 75% a 85% do excesso de peso inicial e é mais comumente utilizada em pacientes com obesidade extrema ou alguns casos de diabetes de difícil controle.

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Grave

Obeso Mórbido

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50,0 - 59,9

Acentuadamente Grave